O endividamento das famílias
atingiu 67,1% neste mês, o maior patamar da série histórica da Confederação
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), iniciada em janeiro de
2010. O maior índice, até então, havia sido registrado em abril deste ano
(66,6%). O indicador teve alta de 0,6 ponto percentual na comparação com maio e
3,1 pontos percentuais no ano.
A alta no endividamento se deve à
necessidade que as famílias com ganhos de até dez salários mínimos estão tendo
de recorrer ao crédito, neste momento de pandemia, para recompor a renda, pagar
dívidas e até manter um nível de consumo.
É o caso de A.C.M, que vendia
marmitex para sobreviver, mas com a retração no comércio com a pandemia de
Covid, foi obrigada a recorrer ao cartão para as compras do dia a dia e para
quitar as dívidas. “Usava o cartão para tudo. Foi embolando até eu não
conseguir pagar mais”, conta.
Já as famílias que ganham acima
deste teto estão fazendo mais economia neste momento de crise, principalmente
para fazer frente a uma eventual necessidade futura.
Para se ter uma ideia, o
percentual de endividamento para as famílias com renda de até dez mínimos
cresceu de 67,4% em maio para 68,2% neste mês. Já para as que têm ganhos acima
desse patamar, o índice recuou de 61,3% para 60,7%, respectivamente.
“No caso das famílias com renda
até dez salários, o maior endividamento está justamente associado às
necessidades que estão tendo por crédito, justamente para poder manter as
contas pagas, manter aí algum nível de consumo, principalmente de produtos
considerados essenciais. Então, o que está motivando este aumento agora, mais
recente, a partir da crise, é mais uma necessidade de recomposição de renda do
que do consumo dos produtos mais dependentes do crédito em si”, salienta a
economista da CNC, Izis Janote Ferreira, coordenadora da pesquisa.
Por outro lado, devido às
incertezas impostas pela pandemia, a economista avalia que as pessoas com renda
acima de dez mínimos têm tido mais propensão à poupança. “Em função das
incertezas que a crise está impondo para recuperação da economia e para a própria
evolução da renda, esse grupo de pessoas está poupando mais para fazer frente
aí a algum tipo de necessidade futura. Por isso, as trajetórias das curvas
estão em sentidos diferentes”, explica.
Apesar de um ligeiro recuo em
relação a junho de 2019, o nível de endividamento com cartão de crédito neste
mês continua na liderança, com 76,1%, seguido de longe por carnês (17,4%),
financiamento de carro (11,7%), financiamento de casa (10,1%), crédito pessoal
(9,3%), crédito consignado (8,3%) e cheque especial (6,2%).
O número de famílias com dívidas
ou contas em atraso atingiu 25,4% em junho, também o maior nível desde dezembro
de 2017. Já as que declararam que não têm condições de pagar os débitos em
atraso, permanecendo inadimplentes, alcançou 11,6%, o maior patamar desde
novembro de 2012.
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